quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

"Invictus" e o uso político do esporte



O momento não poderia ser mais propício para o lançamento de “Invictus”, filme que retrata o episódio da vitória da seleção sul-africana na Copa do Mundo de Rúgbi de 1995 e a habilidade de Nelson Mandela em utilizar esse esporte como meio de integração social. Afinal, estamos no mês da comemoração do vigésimo ano da libertação do ex-presidente e prisioneiro Mandela, e em pouco tempo a África do Sul sediará novamente um evento esportivo internacional, a Copa do Mundo de Futebol.

Brevemente, o enredo do filme dirigido por Clint Eastwood: o recém-eleito Presidente Mandela (interpretado brilhantemente por Morgan Freeman) se preocupa em reinserir a África do Sul no sistema político internacional e em estimular a economia, ao mesmo tempo em que tenta mostrar à população branca que sua vitória não representará a vingança contra as atrocidades cometidas durante o apartheid. Em meio a esse conturbado e complexo contexto, Mandela vê na Seleção de rúgbi, que durante o período de segregação racial era um símbolo dos brancos, uma possibilidade de união nacional.

O filme nos permite refletir, nesse sentido, sobre dois aspectos principais: o uso político do esporte e o processo de integração social na África do Sul.

Quanto ao primeiro, sabe-se que o esporte pode ser utilizado como ferramenta de política externa (na década de 60, a República Democrática Alemã instruía seus atletas a portarem passaportes da Alemanha Oriental para forçar o reconhecimento do Estado socialista pelos países ocidentais; na década de 70, a “diplomacia chinesa do pingue-pongue” orientava atletas chineses a perderem para os americanos, objetivando facilitar o restabelecimento de contatos políticos com os Estados Unidos); como meio de melhorar a preparação militar do Estado (os governos da Austrália, por exemplo, desde 1860 oferecem facilidades para clubes de rifle sob o pretexto de formarem milícias em tempos de crise); como veículo de propaganda ideológica do Estado (na Alemanha nazista, na União Soviética e em Cuba), como auxiliante nos processos de pacificação (vide o amistoso entre a seleção brasileira de futebol e a haitiana, em 2004)... Enfim, são muitas as possibilidades de uso (e de exemplos) do esporte na política.

Concentremos-nos, portanto em nosso foco: o uso do esporte na política da África do Sul. Primeiramente, convém ressaltar que a questão desportiva já influenciava os rumos da política interna sul-africana desde o período do apartheid. Afinal, na década de 70, quando as Nações Unidas conclamaram os países-membros a cortarem relações sócio-esportivo-culturais com a África do Sul (1976), o país passou por uma grave crise política e econômica, que enfraqueceu o modelo colonialista histórico, baseado no sistema de supremacia racial. O apartheid revelou-se vulnerável e o contexto permitiu que o movimento negro ganhasse força política.

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