quinta-feira, 28 de abril de 2011

Resenha de "O medo dos bárbaros: para além do choque das civilizações"

Acredito que ninguém mais passe por aqui, dada a inatividade de quase um ano do blog. Segue, de qualquer forma, parte de uma recente resenha que publiquei na revista Ponto-e-vírgula da PUC-SP. Acredito ser interessante principalmente para os colegas internacionalistas.


O medo dos bárbaros: para além do choque das civilizações
Tzvetan Todorov



Em seu livro O medo dos bárbaros, Tzvetan Todorov, nascido na Bulgária em 1939 e residente na França desde 1963, apresenta criticamente as maneiras como pensadores que vão desde Rousseau até Samuel Huntington entenderam as noções de civilização, barbárie, cultura e identidade. Resgatando historicamente esses termos, Todorov alcança seu objetivo principal de revelar as formas assumidas pela barbárie e pela civilização na época contemporânea.

A preocupação central do autor é mostrar como o medo dos bárbaros pode ensejar nas vítimas comportamentos tão desumanos quanto aqueles perpetrados pelos seus agressores. Conforme Todorov, “o medo dos bárbaros é o que ameaça converter-nos em bárbaros. [...] A história nos ensina: o remédio pode ser pior que a enfermidade” (Todorov, 2010, p. 15).

Para evitar o perigo de uma reação excessiva e, em última instância, o fim da existência da espécie humana, dadas as capacidades atuais das armas de destruição em massa, Todorov lança um apelo ao diálogo, mas não aderindo a um “angelismo qualquer” – pois ele mesmo reconhece que “não se deve deixar de combater ativamente as ameaças terroristas” (Todorov, 2010, p. 19). Assim, entendendo que é insuficiente manifestar boas intenções ou proclamar as virtudes do diálogo, ele afirma que o enfrentamento dos fatos é indispensável e exige que todos estejam abertos para questionar suas próprias certezas e evidências.


No primeiro capítulo (Barbárie e civilização), Todorov foca sua análise nos termos barbárie e civilização, definindo que “os bárbaros são aqueles que negam a plena humanidade dos outros” (Todorov, 2010, p. 27); enquanto o civilizado “é quem sabe reconhecer plenamente a humanidade dos outros” (Todorov, 2010, p. 32).

Entendendo a barbárie e a civilização como características intrínsecas aos seres humanos, o autor afirma ser ilusório tentar identificar um período específico da história da humanidade ou uma região qualquer do planeta como um exemplo de barbárie ou civilização. Pois “nenhuma cultura traz em seu bojo a marca da barbárie, nenhum povo é definitivamente civilizado; todos podem tornar-se bárbaros ou civilizados. Esse é o caráter próprio da espécie humana” (Todorov, 2010, p. 65)

No segundo capítulo (As identidades coletivas), Todorov defende que cada indivíduo participa ao mesmo tempo de inúmeras identidades, cujas amplitudes são variáveis. Ele destaca, sobretudo, três tipos de identidade: a primeira refere-se à “cultura”, com um caráter mais sentimental de apego à terra dos antepassados; a segunda, mais presente na esfera cívica, corresponde ao Estado, ao país do qual somos cidadãos; e a terceira diz respeito ao projeto moral e político ao qual decidimos aderir e em defesa dos quais somos capazes de atitudes intransigentes.

Ele procede dessa maneira, pois entende que a redução da identidade múltipla do indivíduo à identidade única permite a irrupção da violência, transformando as identidades em “identidades assassinas” (categoria trabalhada por Amin Maalouf). Matar um vizinho porque ele é tutsi significa esquecer-se de todas as outras filiações às quais ele pertence – de sua profissão até sua humanidade. Se “qualquer indivíduo é pluricultural” e se “não existem culturas puras; pelo contrário, todas elas são mistas (ou ‘híbridas’, ou ‘mestiças’)” (Todorov, 2010, p. 69), é coerente pensar que a coexistência pacífica entre as diferentes culturas do mundo deva ser possível.

Com base nessa interpretação, Todorov inicia seu terceiro capítulo (A guerra entre Ocidente e islamismo) criticando a tese de Samuel Huntington presente em sua obra O choque das civilizações. Segundo o filósofo franco-búlgaro, Huntington teria imaginado as culturas a partir de um modelo guerreiro, no qual, à semelhança de jovens combatentes, cada um convencido de sua superioridade, elas se enfrentam até o triunfo de uma e a morte de outra.

Se você chegou até aqui, talvez se interesse em ler o resto no local original: http://www.pucsp.br/ponto-e-virgula/n8/artigos/pdf/pv8-16-enzotessarolo.pdf


Abraços,
Enzo.

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