segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Entrevista com Aloisio Krohling

Olá,

O Professor Aloisio Krohling nos concedeu a seguinte entrevista sobre os temas mais debatidos aqui no blog e na mídia, em geral.


1. O que representa a vitória do candidato negro Obama nas eleições americanas?

Existem duas posições em relação à negritude do candidato. Primeiramente, percebe-se que a mídia norte-americana e européia explorou nas suas manchetes a vitória do negro e o aparente avanço desta escolha para questão racial nos EUA. O negro virou algo midiático e a sua família se tornou o foco principal da novidade e do inédito - o fato de ter crianças negras e esposa de classe média em Washington continuará manchete até o final do mandato do Presidente OBAMA. Qualquer primeira DAMA na "White House" é a Rainha que os Estados Unidos não assumiram na sua independência da Inglaterra. Enfim, o fato é que a sociedade americana continuará dividida em brancos, negros, latinos e clandestinos de todas as culturas e nunca será uma sociedade multicultural com igualdade social.
A segunda posição é aquela que afirma que a eleição de Obama representa o pós-racismo. O próprio candidato não estaria ligado às lutas dos Direitos Civis de Martin Luther King e outros, por ser de outra geração e porque não colocou esta questão racial na sua campanha. A atual conjuntura política americana teria mudado e não exigiria mais a ênfase na questão racial. Alguns comentaristas chegam a admitir que Obama não levantou esta questão racial na campanha por estratégia eleitoral e que nem agora depois de eleito fará isto, pois, o que ele mais precisa é a união de todos diante da grave crise econômica e financeira.


2. Quais são as conseqüências da crise financeira global, sob o ponto de vista político-econômico?

François Chesnais e Eric Hobsbawm escreveram artigos mostrando a gravidade da atual crise financeira e econômica perguntando se o velho Karl Marx não tinha razão nas suas análises. Não será a crise do capitalismo? Seria o fim do neoliberalismo que sempre pregou o Estado Mínimo?

Bernardo Kucinski, nesse artigo, mostra a derrocada dos bancos americanos e seus efeitos no mundo e a queda dos gigantescos bancos hipotecários e de investimento americanos e alguns europeus que acelera o declínio do dólar e põe em xeque a hegemonia americana.

A questão que mais se levanta é a estatização dos bancos e o socorro imediato dos Bancos Centrais aos banqueiros falidos. Apesar da catástrofe e do terremoto financeiro, como aconteceu após 1929, o capitalismo vai continuar forte como nunca, agora admitindo abertamente a necessidade do Estado intervir em casos como este. Os liberais conservadores nunca foram coerentes em termos de fundamentação teórica, afirmam a tese da “mão invisível da economia”, mas vivem de pires na mão pedindo socorro ao Estado, quando não corrompendo os agentes públicos. O tão propalado Estado de Direito é o Estado de direito capitalista.
Por fim, sabe-se que Obama caiu de luva para os grandes empresários e banqueiros norte-americanos e mundiais. Como aceitaram a lei de Seguridade Social de Roosevelt, em 1934, agora aceitarão outro “New Deal” do Presidente negro, comprometido com a classe média e os pobres. A conseqüência será a recessão econômica e mais uma vez os mais pobres pagarão a conta. Haverá outra ideologia maquiando o neoliberalismo.

2 comentários:

Enzo Mayer Tessarolo disse...

Obrigado pela entrevista, Aloisio!

É difícil, realmente, escolher entre as duas posições sobre a questão racial de Obama. Por um lado, ficou claro que o novo Presidente americano não precisou carregar a bandeira do movimento negro, levantada por Martin Luther King e outros, para se eleger. Por outro, ainda é visível (e talvez esteja em ascensão) o racismo e as desigualdades entre as raças e as etnias lá nos EUA.

Sobre a crise financeira, de fato, essa situação atual não deve passar de um ciclo do capitalismo, que sempre se renova e institui novas ideologias para manter seu funcionamento.

Abraços,
Enzo

Thiago Prudêncio disse...

Muito obrigado pela entrevista, Aloísio !

É sempre muito bom ler algo do tipo, interessante em sua essência, a opnião proferida pelo professor diverge de algumas que pude ler, e de fato faz muito sentido. Me refiro a questão da crise atual ser mais um ciclo do capitalismo, e que ele retornará mais forte do que nunca. Parece que Wallerstein passará dessa para melhor antes de ver sua teoria na prática.

Abraços,
Thiago.